Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)
O tempo médio que uma pessoa com diabetes crônica pode permanecer sem as injeções de insulina é 24 horas. O acesso ao medicamento e o uso diário são imprescindíveis e custam nada menos que uma vida. Paula e Bruno, ambos filhos de Sirlene Oliveira Rodrigues (foto acima), 53 anos, têm diabetes tipo 1 e dependem da medicação, que é retirada por meio da farmácia da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ª CRS), localizada na Rua Astrogildo de Azevedo, 277, no centro de Santa Maria. A falta do remédio é recorrente, segundo Sirlene. O relato da microempresária é de desespero e de apelo por mais responsabilidade na gestão da farmácia e de empatia.
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- Na segunda-feira (25 de fevereiro), meu marido foi lá, e não tinha. Sexta, novamente, não tinha, e não havia previsão. Nós nos apertamos e, de algum jeito, conseguimos usar um cartão de crédito e comprar na farmácia. Mas, e quem não tem? Eles não têm amor à vida? Não se colocam no lugar do outro? Entra governo e sai governo, e é sempre assim. Falta gestão, organização. A desculpa é sempre a mesma: ou não sabem por que não veio remédio ou é porque precisam fazer licitação com os laboratórios. Se sabem que vai acabar, porque não se programam? - protesta Sirlene.
Bruno, hoje com 24 anos, é diabético desde os 16. Paula tem 35 anos e usa insulina desde os 3. Aos 24, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em decorrência da doença. Há quatro anos, ela faz, diariamente, diálise - procedimento pelo qual uma máquina limpa e filtra o sangue, fazendo parte do trabalho que o rim faz. Ela está na fila de espera para transplante de rim e pâncreas.
Paula e Bruno usam Glargina uma vez ao dia. A "canetinha" - frasco do medicamento - dura uns quatro dias e custa cerca de R$ 100. Eventualmente, precisam acrescentar o uso de Humalog, insulina de ação rápida utilizada antes das refeições, quando a glicose está acima de 200 mg/dl (o normal é 100 mg/dl). Essa medicação custa aproximadamente R$ 40.
Para Sirlene, o acesso ao remédio foi pleiteado por meio da Justiça e, ainda assim, esbarra na burocracia, mesmo que a retirada dos remédios na farmácia do Estado seja feita há anos. Para ela, porém, o custo de não ter garantido o acesso ao remédio e o preço de um paciente com diabete mal controlada vão além da medicação:
- A cada quatro meses, temos que acordar cedo, pegar ficha e ter o atestado dos médicos, mais um monte de requisitos para comprovar que eles precisam da insulina. Só que o diabético não vai se curar, por que insistem nessa papelada? O custo do transtorno é maior que do remédio, pois, se não tem medicamento, impacta na qualidade de vida e complica os olhos, rins, pâncreas. Precisa de novos tratamentos e , às vezes, vai para o hospital. Isso reverte em gasto para o Estado. E quem sai de outra cidade, gasta com passagem, chega no balcão da farmácia e não tem? - questiona.
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SEM RESPOSTAS
Na última quinta e sexta-feira, o Diário tentou contato com a atual delegada da 4ª CRS, Marlisa Villagrand da Rosa. Na quinta à tarde, ela não pode atender o telefone por duas vezes. A informação do gabinete da secretária era de que ela estava em reunião. Na sexta, por telefone, foi alegado o mesmo motivo. Em nenhum dos dias, houve retorno.
Fotos: Gabriel Haesbaert (Diário)
A farmacêutica responsável pela farmácia estadual, Cláudia Marchesan Pozzatti, confirmou a falta de insulina e disse que não recebe o medicamento desde o fim de janeiro. A responsável também não soube informar o motivo do problema:
- A gente só recebe do almoxarifado e encaminha. Orientamos as pessoas para que procurem a Ouvidoria do SUS (Sistema Único de Saúde) e oferecemos a negativa do estoque para quem quiser tentar por judicialização. Não sabemos o motivo da falta.
Segundo a farmacêutica, a falta de estoque não é restrita à insulina. No último mês, quem precisou das dietas enterais - alimentação receitada a pessoa com dificuldade ou impossibilitados temporária ou permanentemente de nutrição por via oral - não encontrou na farmácia. Atualmente, o produto já está disponível na farmácia.
Ela também não soube dizer o número de pacientes que, todos os meses, contam com a insulina disponibilizada pela farmácia estadual.